Autor: Redação do Portal
Comemorações efusivas de um lado. Tristeza profunda do outro. Risos, 
lágrimas. Aquele grito de gol entalado na garganta. A boa e velha 
‘zoação’ com os rivais. O famoso ‘É campeão!’.
“O que a gente pode dizer é que tem fato, episódios com fortes 
indícios de que os clubes que foram favorecidos tiveram melhor 
desempenho. Isto desde o início do campeonato até as fases decisivas. De
 fato, este favorecimento foi decisivo para que os clubes tivessem um 
bom resultado no campeonato. É um fato”, declarou.
Por conta do sigilo das investigações, o delegado não pôde falar os 
nomes dos clubes envolvidos. Segundo ele, todos os dirigentes de times 
da primeira divisão do futebol da Paraíba estão sendo investigados. Vale
 lembrar, que a edição 2018 do Campeonato Paraibano teve como campeão e 
vice-campeão, respectivamente, Botafogo-PB e Campinense.
Além desta declaração, o delegado revelou uma série de 
irregularidades cometidas no futebol paraibano na edição deste ano do 
Estadual. Ele ressaltou ainda que há indícios que as fraudes aconteciam 
há pelo menos dez anos, porém, pelo fato das investigações terem 
começado efetivamente a partir de janeiro de 2018, as provas concretas 
referem-se ao campeonato mais recente.
São várias as irregularidades cometidas pelas pessoas que estão sendo
 investigadas, que, além dos dirigentes, compreendem ainda a Federação 
Paraibana de Futebol (FPF), a Comissão de Arbitragem da FPF, o Tribunal 
de Justiça Desportiva da Paraíba e árbitros de futebol. Dentre as 
fraudes, estão a participação de pessoas que usaram o esporte como 
trampolim para a politica, compras de jogos, árbitros vendendo o mesmo 
jogo para os dois times adversários, entre outras. 
Segundo o delegado, a ligação do futebol com a política está no 
tocante a uma suposta vantagem nas urnas, relacionada ao desempenho do 
clube do dirigente que está tentando uma vaga na poder público.
“O que tem de vínculo politico até agora, é que alguns dos dirigentes
 já se candidataram a cargos políticos e alguns deles já foram eleitos. 
Quando o clube tem um resultado bom, a torcida fica eufórica e o 
dirigente ganha um prestígio enorme por ter sido campeão naquele clube. É
 quase como dissesse: fui campeão com o clube e vou ser um bom politico.
 Infelizmente é como se estivesse feito este vínculo e eles acabam 
ganhando este favorecimento. Alguns deles foram eleitos e basicamente 
usaram do bom desempenho que tiveram no futebol para ganhar votos e 
conseguirem se eleger. Depois que eles ocupam estes cargos políticos, se
 eles fizeram alguma coisa para beneficiar o clube deles, isto até agora
 não temos”, disse.
Árbitros custavam até R$ 50 mil
Figuras importantes no esquema criminoso, os árbitros eram quem 
podiam decidir o jogo em favor de um time A ou B. E este favorecimento 
vinha em troca de algo: ou uma quantia em dinheiro ou favores futuros.
“O árbitro, pelo que foi informado, recebem de 250 até mil reais 
oficialmente, por partida. De forma legal. Seja da FPF ou CBF. Existem 
maneiras que o árbitro poderia receber para ajudar um clube. Ou ele 
recebia valores, dinheiro para ajudar o clube, ou ele receberia favores,
 que era o fato de ser escalado para mais partidas, com mais frequência e
 isto faria com que ele ganhasse número de partidas, visibilidade e 
ganhava pontuação do ranking da CBF ou Fifa. Em termos de valores, se 
fosse um jogo regular que não tivesse nenhum caráter decisivo, receberia
 em média 10 mil reais. Se fosse um decisivo, de 30 a 50 mil reais só 
para aquela partida. Isto foi o que os próprios árbitros denunciaram 
aqui, que eram os valores que teriam sido oferecidos a eles”, apontou.
Mas se há suspeitas de compras de jogos por mais de um time, como se 
dava o favorecimento de um árbitro para um time X ou Y? Segundo o 
delegado, houve casos que os dois times que entraram em campo teriam 
comprado uma suposta ajuda externa.
“Existem os clubes que conseguiam comprar este favorecimento direto 
da FPF e da comissão de arbitragem. Os clubes chamados parceiros. E 
aqueles que não tinham esta ligação com a FPF, não tinham como conseguir
 o favorecimento através desta, porque ela já garantiu o favorecimento a
 determinado clube. Então eles partiam para outra opção que era lidar 
diretamente com os árbitros. Existem episódios concretos de que um 
árbitro vendeu favorecimento para os dois clubes no mesmo jogo, recebeu 
dos dois. E como na partida existem lances para os dois lados, ele tinha
 como se defender dos clubes dizendo que ajudou um clube em um 
determinado lance e outro em outro. A gente conseguiu comprovar isto. 
Existem determinadas partidas, inclusive importantes, decisivas, que ele
 vendeu ajuda para os dois times”, revelou.
Possíveis punições
A investigação ainda está em curso, portanto, ainda não se pode dizer
 quais consequências jurídicas ela trará. Porém, de acordo com o 
delegado, o objetivo da operação é passar uma limpa no futebol 
paraibano. Para isto, os responsáveis pelo esporte na Paraíba, sejam 
dirigentes de clubes, da FPF ou os árbitros, podem vir a responder tanto
 criminalmente, inclusive até com prisões, quanto administrativamente, 
sofrendo sanções dos órgãos que regulam o futebol no Brasil.
“O nosso objetivo é que desta vez a gente tenha a maior eficácia 
possível. Que estas pessoas sejam, não só processadas, mas condenadas na
 esfera criminal, sofram as repercussões também administrativas. E aí me
 perguntaram quais são. É possível que elas sofram consequências no 
Superior Tribunal de Justiça Desportiva e junto à Confederação 
Brasileira de Futebol. A CBF pode, por exemplo, afastar dirigentes. 
Quanto mais elementos tivermos mais chances vai ter disto acontecer”, 
disse.

Ainda de acordo com Lucas, determinados fatores podem ser comprovados
 até por quatro meios diferentes: as denúncias acolhidas no início das 
investigações, algumas diligências sigilosas, os documentos apreendidos 
no dia 9 de abril durante a primeira fase da operação e os conteúdos 
presentes nos aparelhos telefônicos apreendidos.
Ele disse ainda que novos fatos podem vir a ocorrer se alguns dos 
suspeitos decidam fazer uma colaboração premiada. Segundo ele, até o 
momento, ninguém colaborou para as investigações de forma oficial.
“As provas foram coletadas. É claro que é possível que a gente avance
 se algum dos suspeitos quiser colaborar , mas até o presente momento 
nenhum quis fazer colaboração premiada, porque eles não sabem o que a 
gente tem”.
Sobre possíveis prisões, Lucas afirmou que elas podem vir a ocorrer, 
desde que os possíveis alvos se enquadrem nas condições exigidas por lei
 para que aconteça uma prisão cautelar.
“A legislação como requisito ela estabelece que seja um crime com 
pena máxima superior a quatro anos, um crime doloso, e que tenha alguns 
requisitos, como aplicação da lei penal, a ordem pública e algum risco a
 integridade física de testemunhas e vítimas. Qualquer uma destas 
pessoas que tenha a comprovação que ele atuou no esquema, e seja uma 
pessoa que além de ter comprovada a participação a gente tenha episódios
 de, por exemplo, ela está destruindo provas, intimidando alguém, ou se 
desfazendo dos bens para fugir, qualquer pessoas que entre nestes 
requisitos ela pode ter o pedido de prisão decretada”, explicou.
Lucas disse ainda que os investigados poderão responder por crimes 
que ferem o estatuto do torcedor, falsidade ideológica e organização 
criminosa. Ainda há a possibilidade de novos crimes, como lavagem de 
dinheiro, mas isto só será possível verificar após as análises das 
contas bancárias dos envolvidos.
Por fim, Lucas fez uma reflexão do que esta operação pode acarretar 
para o futuro do futebol paraibano. Ele disse ainda que os torcedores 
que se sentiram lesados, podem ingressar com pedidos de reparação de 
danos, seja individual ou coletiva, contra os clubes, seja na esfera do 
direito do consumidor ou na do direito cível.
“Nós vivemos em um país que está assolado por corrupção por todos os 
lados. A partir do momento que você tolera pequenas corrupções, como 
furar uma fila, você vai estar contribuindo para que esta corrupção seja
 endêmica em toda a sociedade e isto vale para todos os aspectos. É meio
 que cultural isto, as pessoas quando comentam um resultado de um 
campeonato chegam a dizer que não importa se o time ganhou roubando, o 
que importa é ser campeão. Se você concorda com isto, você vai fomentar 
esta corrupção também. A gente não pode tolerar mais, se não é para ter 
corrupção, não é para ter de nenhuma forma, tanto no esporte, como na 
politica… O futebol, no momento que a gente vive, é um fator 
importantíssimo como uma válvula de escape , uma diversão que você 
tenha. Tem certas situações que não podem mais acontecer e com isto eu 
espero sim que muita coisa mude para melhor, porque se nem a nossa 
válvula de escape for uma conduta licita então  é muito grave e tem 
muita coisa para mudar no nosso país”, finalizou.